17 outubro 2010

100 anos de inovação.

O carré completa um século sem perder seu incontestável poder de sedução. Eis a história de um visual cult que encantou ícones do passado e ainda encanta as mulheres do novo milênio.









A tradução da palavra francesa carré é quadrado. Mas tal significado ganharia diversas outras conotações desde que, em 1909, Monsieur Antoine, o coiffeur da moda em Paris, criou o corte de base reta a que deu o nome carré.

De lá para cá, o curto protagonizou transformações, adaptações, escândalos, amores. Nunca um estilo de cabelo esteve tão ligado aos gostos de sua época e aos costumes sociais. E, principalmente, às mulheres que alcançaram o estrelato por portar o look considerado escandaloso.

Inspirado na heroína francesa Joana D’Arc, o carré teve que esperar a década de 1920 para tornar-se popular. A primeira celebridade a optar por ele foi Louise Brooks. Diva do cinema mudo, ela não teve dúvidas ao cortar os fios curtinhos para encenar, em 1928, o papel de uma mulher pecaminosa e audaciosa em A Caixa de Pandora.

Depois vieram as “flapper girls” (literalmente as meninas melindrosas), que tosaram as madeixas para poder dançar o charleston sem o incômodo do cabelo longo. Brooks, por sua vez, acabou tornando-se um modelo que ia além do cinema e da ficção: ela fez do carré uma primeira manifestação do feminismo.


Para secretárias, donas de casa e professoras, o corte representou o segundo passo em direção à independência – o primeiro havia sido comprar a piteira e aprender a fumar. A carga erótica do estilo pode ser explicada através do princípio da subtração: menos tempo para dedicar ao penteado, menos centímetros cobertos por cabelo e menor possibilidade de escapar dos olhares masculinos.

Um corte “drástico, logo abaixo das orelhas, com um pouco de franja” marca o amadurecimento de Claudine, personagem dos romances da escritora francesa Colette, famosa no início do século XX pela literatura libertária. Ou seja, Claudine escolheu o carré para mostrar-se mulher. Desde então, os cabelos cresceram e encurtaram várias vezes em uma gangorra de looks e provocações.








Nos anos 1960, a minissaia da estilista inglesa Mary Quant combinava com o carré.

Mas os cabeleireiros do Reino Unido precisam encontrar um sinônimo em inglês para a palavra francesa. Em 1963, Vidal Sassoon criou, então, o bob, sua própria versão “in English” para o curto de base reta. A partir daí as diferenças entre bob, carré ou chanel limitaram-se, principalmente, ao idioma utilizado e às suas infinitas variações.

Se no século passado comportar-se contra as tendências era sinônimo de independência e liberdade sexual, salta aos olhos o contraste com os tempos mais recentes. O carré, ainda hoje, é um dos cortes mais solicitados e propostos a cada estação por cabeleireiros e visagistas.

No novo milênio, foi capaz até de conquistar um status diferente, mais clássico e burguês. Há também quem fez do carré sua bandeira. Anna Wintour, diretora histórica da revista Vogue América, aderiu ao corte em 1988 e nunca mais o largou.

Uma nuca descoberta acompanhada por uma franja leve não é mais sinônimo de independência e emancipação. A sedução, hoje, deslocou-se para outras partes do corpo.

No final das contas, o carré, mesmo sendo um corte centenário, está sempre associado à idéia de frescor. Exatamente como uma roupa, é capaz de se tornar provocador e malicioso, dependendo de quem o usa. Mais uma vez não é o corte que determina uma atitude, mas a consciência e a sensibilidade.

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